A fórmula de uma campanha política fracassada

O sucesso ou fracasso de uma campanha pode ser determinado por uma série de fatores, que vão desde a escolha do candidato até a execução das estratégias planejadas

 

Por Gabriel Scarpellini

Todos entram na política pensando em vencer. Mas o ganho pode acontecer mesmo em derrotas. Ganha-se capital político, experiência e até mesmo ganha-se cicatrizes, que servirão para os próximos pleitos.

Infelizmente, há campanhas que estão fadadas ao fracasso geral, devido a erros cruciais em sua gestão e condução. Neste texto, exploraremos a fórmula de uma campanha política fracassada, destacando os elementos fundamentais que contribuem para esse desfecho.

  1. Candidato Querendo Agradar a Toda Equipe

Um dos maiores erros que um candidato pode cometer é tentar agradar a todos do seu grupo. Em uma tentativa desesperada de angariar apoio, muitos candidatos caem na armadilha de ouvir e acatar a todos, não tomando posição de líder principal e deixando os pepinos para outros resolverem, ou… na expectativa que se resolvam por si só. Isso muitas vezes acarreta em obstáculos incontornáveis  Isso consolida a imagem de um candidato ensaboado, sem firmeza e sem objetivo definido.

Até mesmo com os eleitores essa tentativa de agradar a todos é mal vista. Ao adaptar seus discursos para atender a todas as demandas, muitas vezes contraditórias, dos diferentes grupos sociais, acaba minando sua credibilidade e diluindo sua mensagem principal, tornando-o inconsistente e pouco confiável.

Quando um candidato não tem uma postura firme e clara, ele perde a confiança de todos. A política é, por natureza, divisiva, e tentar agradar a todos é uma missão impossível, que resulta na perda de autenticidade. Os eleitores procuram líderes que tenham convicções firmes e que sejam capazes de defender suas posições de maneira coerente. Um candidato que muda de opinião conforme a plateia que está diante dele demonstra falta de firmeza e determinação, características essenciais para um líder político de sucesso.

  1. Muito Cacique e Pouco Índio

Essa expressão divertida significa que temos muitos chefes que se dizem estratégicos e poucos subordinados operacionais.  Um baita erro, onde quer que ocorra.

Em uma campanha, é comum encontrar diversas pessoas que querem exercer liderança, dar opiniões e direcionar as ações, mas poucas dispostas a colocar a mão na massa e executar as tarefas necessárias. Esse desequilíbrio resulta em uma falta de ação efetiva e no desperdício de recursos.

Ter muitos líderes sem uma equipe operacional forte e dedicada cria um ambiente de disputa interna e ineficiência. As decisões se tornam lentas e conflituosas, e as ações planejadas não são implementadas de maneira eficaz. Em contrapartida, uma campanha de sucesso depende de uma equipe bem estruturada, onde cada membro sabe seu papel e está comprometido com a execução das tarefas atribuídas. Os líderes devem ser capazes de inspirar e motivar a equipe operacional, garantindo que todos trabalhem em direção a um objetivo comum.

  1. Todos Palpitando na Função dos Outros e Não na Sua

O excesso de coordenadores e líderes acarreta em outro fenômeno decisivo para o fracasso da campanha.

Passa a ser comum que todos queiram opinar sobre a função dos outros, mas poucos se concentram em fazer bem o seu próprio trabalho. Essa atitude cria um ambiente de interferências e desorganização, onde as responsabilidades não são claramente definidas e as tarefas não são realizadas de maneira eficiente.

Cada membro da equipe deve ter um papel bem definido e focar em desempenhá-lo da melhor forma possível. Quando todos começam a palpitar na função dos outros, a campanha perde a coesão e a eficiência. Um trabalho bem-sucedido depende da confiança nas habilidades e competências de cada um, além de uma comunicação clara e respeitosa.

  1. Falta de um Coordenador Geral Firme e Capacitado

A ausência de um coordenador geral firme e capacitado é um dos fatores mais certos para o fracasso de uma campanha política. O coordenador geral é responsável por direcionar todas as atividades, gerenciar a equipe, tomar decisões estratégicas e garantir que a campanha esteja no caminho certo. Sem essa figura de liderança forte e competente, a campanha fica à deriva.

Um coordenador geral eficaz precisa ter habilidades de gestão, comunicação e liderança. Ele deve ser capaz de lidar com crises, tomar decisões rápidas e manter a coesão da equipe. Além disso, é fundamental que o coordenador tenha uma visão clara dos objetivos da campanha e saiba como alcançá-los. A falta dessa liderança resulta em uma campanha desorganizada, onde cada setor funciona de maneira independente, sem uma direção clara e coordenada.

  1. Grupo Político Desarticulado, Desunido e Cheio de Fofocas

Temos aqui outro excelente ingrediente para o fracasso de uma campanha. A coesão e a unidade são essenciais para que uma campanha funcione de maneira harmoniosa e eficiente. Quando os membros do grupo político estão mais preocupados em promover intrigas e fofocas do que em trabalhar juntos pelo sucesso da campanha, o resultado é a desorganização e o fracasso.

Fofocas e intrigas internas minam a confiança entre os membros da equipe e criam um ambiente de trabalho tóxico. A falta de comunicação clara e aberta entre os membros do grupo político leva a mal-entendidos e conflitos desnecessários. Para que uma campanha seja bem-sucedida, é necessário que todos os envolvidos trabalhem em harmonia, compartilhem informações de maneira transparente e tenham um objetivo comum em mente.

  1. Vaidades se Sobressaindo

Não podemos deixar um dos pecados capitais de lado.

Em um ambiente onde as vaidades pessoais se sobressaem ao bem coletivo, as decisões são tomadas com base em interesses individuais e não no sucesso da campanha. Quando membros da equipe colocam suas ambições pessoais acima dos objetivos da campanha, o resultado é a fragmentação e a ineficiência.

A vaidade pode se manifestar de diversas maneiras, desde a necessidade de ser o centro das atenções até a resistência em aceitar críticas construtivas. Em uma campanha política, é essencial que todos os membros da equipe estejam dispostos a trabalhar juntos e a colocar o interesse coletivo acima das vaidades pessoais. O sucesso de uma campanha depende da capacidade de seus membros de colaborar, respeitar as opiniões alheias e focar nos objetivos comuns.

  1. Culpa Sempre Ser do Marketing

Outra característica de uma campanha fracassada é culpar sempre o marketing por qualquer falha. O marketing é uma ferramenta crucial no processo, é ele o responsável pela estratégia, por comunicar as propostas do candidato e engajar os eleitores. No entanto, quando a campanha não está indo bem, é comum que o marketing seja o bode expiatório.

Culpar o marketing sem fazer uma análise profunda dos problemas reais pode levar a um ciclo de insatisfação e ineficácia. Em vez de procurar entender onde estão os reais problemas e trabalhar para solucioná-los, a equipe se concentra em apontar os dedos. Para que uma campanha seja bem-sucedida, é necessário que todos os setores trabalhem juntos, assumam suas responsabilidades e busquem soluções em conjunto.

  1. Só Olhar para a Concorrência e Não para a Própria Campanha

Observar a concorrência é importante, mas focar exclusivamente nela e negligenciar a própria campanha é um erro fatal. Em uma campanha fracassada, a equipe passa mais tempo reagindo às ações dos adversários do que construindo e fortalecendo suas próprias estratégias.

É essencial que a campanha tenha uma identidade clara e saiba quais são seus objetivos e propostas. A obsessão pela concorrência pode levar à perda de foco e ao desvio de recursos que poderiam ser usados para fortalecer a própria mensagem e engajar os eleitores. Uma campanha bem-sucedida é proativa, não reativa, e concentra-se em destacar suas qualidades e propostas únicas.

  1. Mexer no Time Toda Hora

A constante mudança na equipe de campanha é outro fator que pode levar ao fracasso. Alterações frequentes nos membros da equipe geram instabilidade e descontinuidade nas estratégias e ações planejadas. Cada nova pessoa que entra no time precisa de tempo para se adaptar e entender a dinâmica da campanha, o que pode atrasar a execução das tarefas.

A estabilidade da equipe é crucial para a coesão e a eficiência. Um time bem alinhado e entrosado trabalha de maneira mais harmoniosa e eficaz. As mudanças devem ser feitas com cautela e apenas quando realmente necessárias, garantindo que todos os membros da equipe estejam comprometidos com os objetivos da campanha.

  1. Falta de Pesquisas Confiáveis

É preciso eleger um instituto de confiança e que trabalhe em sintonia com todo o time.

As pesquisas são ferramentas essenciais para entender o perfil dos eleitores, suas necessidades e expectativas. Sem dados precisos e confiáveis, a campanha se torna um tiro no escuro, baseando-se em suposições e achismos.

Pesquisas mal conduzidas ou pouco frequentes resultam em estratégias equivocadas e decisões mal informadas. A campanha precisa de informações atualizadas e precisas para ajustar suas ações e mensagens conforme a resposta dos eleitores. A falta de investimento em pesquisas de qualidade pode levar a uma desconexão com a realidade do eleitorado, tornando a campanha ineficaz e irrelevante.

Parabéns, barco afundado.

 

Gabriel Scarpellini é membro fundador da Alcateia Política, é publicitário e especialista em Marketing Político e Comunicação Governamental pelo IDP. Sócio da GAS 360, agência de publicidade, e atua também como consultor em marketing político.

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