Dizem que vice tem que ter dinheiro, voto ou tempo de tv/rádio. Mas aí a gente fica se perguntando: se o vice tem que ter estas coisas, pra que ser vice? Agruras de uma campanha e como sair das armadilhas por meio da organização e da gestão de pessoas.
Por João Henrique Faria
Todo mundo sabe que eleição é coisa séria. Mas, pra ser sincero, em 80% dos casos – claro que este percentual é um belo de um chute – não dá pra dizer que seja bem assim. Principalmente se a gente for levar em conta os pretensos candidatos a prefeito das eleições de 2024.
Tenho me deparado com muita gente séria, que se preparou, em todos os sentidos, para a disputa destas eleições. E esta preparação passa por muitos aspectos: a escolha do partido, o financeiro – em especial da pré-campanha –, o estado físico e psicológico pra enfrentar a disputa, as minhas reais chances de vencer ou, melhor ainda, o meu banho de realidade, se for o caso, para entender que: “Nesta eu entro para disputar e me tornar conhecido. Em 2026, eu disputo pra deputado e ganho mais uns pontinhos em nível de conhecimento com credibilidade, ou seja, reputação. Aí, em 2028, eu chego chegando, doidinho pra vencer!”.
Tá ótimo. Mas poucos são assim. Primeiro, porque a maioria não tem projeto político. A eleição do momento é uma aventura. “Nem sei se vou querer mais isso.” Assim, claro, já entrou perdendo. Também há aqueles – muitos –, que o partido vai bancar tudo, desde o primeiro momento. Tadinho. Isso acontece para poucos e que são muito bem acolhidos por quem manda no partido.
E se tudo estiver bem certinho?
Pois é. Pode sim, acontecer – sim, é um acontecimento – de tudo estar bem certinho. Dinheiro de pré-campanha separadinho, negociações partidárias a mil, vice perfeito… mas aí começa o Deus nos acuda. Lembrei de tudo, mas esqueci de que preciso de uma equipe afinada, uma boa estratégia, um bom conhecimento de causa – problemas e possíveis soluções para o meu município – e o que é mais importante: comando.
Pra começar, equipe boa é algo raro. E quanto mais próximo fica o pleito, mais escasso está o mercado. No país inteiro. Estratégia vem de pesquisa, em especial a qualitativa, feita por um bom instituto de pesquisa, presencial – pelo amor dos meus filhinhos –, com alguns grupos focais. Certamente será necessário, no mínimo, uma quali no início da pré-campanha e uma após a definição de todos os candidatos por suas convenções partidárias, que vão de 20 de julho a 5 de agosto. Pesquisas quanti e tracking. Se a eleição for para capital, aí, certamente, muitos outros acompanhamentos devem ser feitos, com forte monitoramento do próprio candidato e de seus adversários.
Mas tá faltando alguma coisa, né?
Sim. Tá faltando alguma coisa. Comando. A equipe pode ser boa, mas precisa de direcionamento. A pesquisa pode ser boa, mas precisa da leitura correta. O candidato pode ser bom, mas precisa ser preparado, por mais qualificado que já seja. Aqui, certamente, estou falando do Consultor Político, Estrategista ou mesmo “Marketeiro”, nome terrível e desqualificado que decidiram carimbar em nossas testas.
Voltando à equipe, é preciso entender que a demanda sobre o candidato deve ser mínima. Candidato tem que estar na rua, articulando com lideranças, conversando com o povo, manifestando opiniões qualificadas sobre problemas concretos. Para isso, a campanha tem que funcionar, sempre que possível, com uma agenda antecipada. A campanha tem que pautar a mídia que cobre a política. O que temos visto é candidato a prefeito tendo que apagar incêndios, em função de notícias plantadas por adversários. Aí a pré-campanha começa quando era pra estar acabando e é um bater de cabeças fantástico.
Toda estratégia exige bom planejamento
No Compol Brasil, realizado em Florianópolis (SC), de 24 a 26 de junho passado, a Alcateia Política participou com dois de seus estrategistas, Nilson Hashizumi (SP) e Michel Lenz (RS), oferecendo um painel intitulado “Agora é Campanha!”. Participei da elaboração de parte do material apresentado, retirado de palestras que fiz para a nova turma do RenovaBR, em maio, cuidando de dois temas fundamentais: “Estruturação de Campanha” e “Gestão de Pessoas em Campanhas”.
Quando falamos em “Estruturação de Campanha”, a base é:
- Entender que Eleição é Política;
- Que Política exige Organização;
e que, portanto,
- Eleição é Organização.
Daqui, partimos para estruturar a Operação de Campanha. Tudo ótimo. Mas voltamos a uma questão essencial: Estratégia se estabelece com Dados. E os Ddados vêm de Diagnóstico, Planejamento e Pesquisa.
Bacana, sem Dados não há elaboração do Marketing, sem Marketing não há elaboração da Comunicação de Campanha.
Ótimo. Tenho Diagnóstico, Planejamento, Pesquisa, Marketing e Comunicação. E a Equipe? Pois é. Importante pensar nisso. Alguém vai ter que entender o que se pede e executar os diversos serviços em comunicação que a campanha exige. Aqui entre a tal da Gestão de Pessoas de Campanha.
Seguem, então, algumas dicas:
- A competência técnica é o principal motivo para se contratar;
- As inconveniências são os principais motivos para se demitir.
Daí, então, surgem novas máximas:
- Não contrate quem você não possa demitir (primeira regra para ter sossego);
- Procure evitar parentes de candidato(a) na equipe.
E o que preciso para comandar?
- Entender que sou multitarefas (a primeira é ser psicólogo da equipe e do-a próprio-a candidato-a);
- É preciso exercer liderança sobre a equipe;
- Dominar a Operação de Campanha (você não precisa saber fazer de tudo, mas precisa saber “mandar” fazer de tudo);
- Dominar todos os Setores da Comunicação de Campanha (novamente, você não precisa saber fazer tudo, mas precisa saber se aquilo que está diante de você está bom ou ruim);
- Por fim, é preciso não cometer um erro clássico em campanhas: imaginar que tem a equipe dos sonhos.
Fácil? Não. Mas para isso existem os Consultores Políticos ou Estrategistas. Sirva-se.
Venha com a Alcateia Política.
www.alcateiapolitica.com.br