Quando as mídias off e on trilham caminhos tortuosos, seja pela arrogância da primeira ou pelo “já ganhou” da segunda, quem perde é o cidadão, ávido de informações honestas
João Henrique Faria *
A eleição para a presidência do Senado Federal, nesta quarta, 1º de fevereiro, apontou a fragilidade da cobertura da mídia.
De um lado, pressionados ou impressionados pelos supostos efeitos das redes sociais em um processo que, de fato, é interno, portanto, político, com escassas possibilidades de pressões da sociedade, os veículos de comunicação tradicionais acreditaram ou “forçaram a barra” em relação a uma possível virada de mesa no processo eleitoral do Senado, ou mesmo de uma “vitória apertada” do candidato apoiado pelo Planalto, Rodrigo Pacheco (PSD), o que não se confirmou.
De outro, as redes sociais apontaram, segundo institutos de medição e comentários na própria mídia tradicional, uma “vitória esmagadora”, naquele espaço, do candidato do chamado “grupo bolsonarista” – também aí um erro, porque havia bem mais que bolsonaristas ao lado de Rogério Marinho –, isso em virtude de uma, sim, esmagadora presença de postagens favoráveis ao senador oposicionista.
Cabe ressaltar que a estratégia dos apoiadores de Marinho surtiu mais efeito nos analistas políticos, ávidos por uma “novidade”, algo que garantisse a audiência nas chatíssimas e repetitivas programações – destaquem-se raríssimas exceções. Justifico, do ponto de vista jornalístico, esta opinião sobre as coberturas políticas, no caso específico daquelas relativas à disputa do Senado, de forma especial pelo uso indiscriminado do off nos comentários.
Off é uma ferramenta que o jornalista utiliza em momentos especiais, quando realmente a fonte precisa ser preservada. O que assistimos hoje, no jornalismo brasileiro, é a utilização do off como regra, o que desvirtua, por completo, o instrumento. Assim, o ambiente de fofoca, apelidado com o eufemismo de “bastidor”, recheia o cotidiano de nosso jornalismo, que perde força nos “uma fonte do Planalto revelou…”, “um senador, que pediu para não revelar sua identidade…”, e até mesmo, para dar credibilidade à “fonte fantasma”, alguns vêm com “uma fonte quentíssima”. Olha, seria para rir. Mas o caso é de chorar.
E estamos falando, ainda, de mídias convencionais. Fácil observar que, majoritariamente, hoje, quando a mídia tradicional usa uma fonte explícita, ela vem das redes sociais. Assim, estampa-se nas telas das emissoras de TV uma imagem de uma rede social e lá vem: “O ministro Flávio Dino postou em suas redes…”. Destaco que, os repórteres, estes sim, em sua maioria, trazem as fontes explícitas, inclusive porque estão reportando fatos. Mas os comentaristas/analistas…
E chegamos, de forma direta, às redes. Por elas, Marinho já estaria empossado na Presidência do Senado. E aí escancaram-se os comentários: “Mas o governo é incompetente nas redes”, “A oposição está dando um banho nas redes”. Sim. É fato. A estrutura da oposição bolsonarista é bem mais apta à mobilização pelas redes. Mas isso não representa vitória em todas as causas. Fosse assim, Bolsonaro estaria em segundo mandato e Marinho eleito para a presidência do Senado.
E é aí que o bicho pega. As redes sociais têm lugar próprio e ação própria. Dificilmente, sobre um universo reduzido e politicamente preparado como o Senado da República, uma ação, por mais intensificada que fosse, surtiria um efeito final no resultado do pleito. O que não significa que, em cima de uma matéria posta – um projeto de lei, por exemplo –, tal pressão não surtiria efeito.
Na eleição interna de uma Casa Legislativa, vale mais a conversa direta, a negociação – o que foi feito pelos dois lados.
E o jogo segue.
*João Henrique Faria é jornalista, estrategista político, professor da pós-graduação em Comunicação Pública e Governamental da PUC-MG e membro fundador do Coletivo Alcateia Política
Discussão muito pertinente. E arrisco complementar que muito disso se dá também pela preguiça de boa parte dos colegas jornalistas em cultivar fontes e fazer o velho e bom trabalho de apuração. É mais fácil ver “o que o Twitter está dizendo”, em vez de sair em busca de informações calcadas no “mundo real”.
Pois é João Henrique. Bela prosa a sua neste texto. Esquecem os desavisados que estamos em tempos de fake news, da ditadura da informação intencionada para enganar, da pressão “pseudo-honesta”, em nome da transparência, das regras dentro das 4 linhas da Constituição. Ledo engano. A pataquada que vimos foram senadores bolsonaristas forjando um discurso moralista e, mais uma vez, disfarçado de lealdade à Pátria, Família e Liberdade. Dentro ou fora das 4 linhas o jogo deles é outro. A gente tá deixando de ser besta! Não cola mais …
Perfeito, Zero.
A cultura de “amigo do Rei” impõe certa autoridade e pressupõe proteção às fontes, um sigilo que – como ressaltou o articulista João Henrique Faria – deve ser usado com parcimônia.