Os desafios são muitos, não importa se você é marinheiro de primeira viagem ou se já tem experiência em mandatos legislativos. Nunca a política mudou tanto quanto nos últimos anos no Brasil
João Henrique Faria *
Quem vivencia um processo eleitoral – em especial aqueles que o fazem pela primeira vez -, caso não se prepare bem para a jornada, sai da experiência quase que traumatizado. E isso independe de serem vitoriosos ou não. Alguns fatores levam a isso:
- Eu esperava receber mais recursos do partido;
- Não consegui atingir a todos os eleitores que eu queria;
- A minha comunicação não foi aquilo que eu imaginava;
- O tempo é muito curto e, mesmo assim, há muitas mudanças dentro da jornada;
- O desgaste com embates externos e internos foi muito grande.
Certo. Há muitas e diferentes respostas para estas cinco decepções e olha que a gente poderia listar mais umas tantas outras. Quase sempre elas passam por “falta de planejamento”, pouca ou nenhuma “inserção no mundo digital”, entendimentos equivocados sobre “processos de Comunicação – on e off ”, falta do famoso “pé de meia” para dar início à jornada na pré-campanha e ganhar destaque em visibilidade, o que acarretaria interesse de investimento por parte do partido e de pessoas físicas e por aí vai.
Apesar de tudo isso, muitos conseguiram atingir seus objetivos, que não necessariamente passavam por eleger-se. Mas que outro objetivo alguém pode ter em uma eleição, que não seja o de se eleger, perguntaria você. Vamos listar alguns? Lá vai:
- Ganhar visibilidade política interna;
- Passar a ser mais conhecido pelos eleitores;
- Conquistar um público fiel, que acreditou em suas propostas;
- Conquistar um posicionamento local, que permita disputar cargos nas eleições municipais de 2024;
- Ganhar reconhecimento de potencial eleitoral no seu e em outros partidos.
Vamos novamente ficar nestes cinco, de tantas outras coisas positivas que se poderia listar, mesmo que o resultado não tenha sido ser eleito.
“POIS É. MAS EU FUI ELEITO.”
Aí a coisa aperta e a dimensão passa a ser outra. Lembra daquela história do “não basta ser pai, tem que participar”. Então. Nas eleições de 2022, os estrategistas/consultores da Alcateia Política passaram por diversas experiências, muitas exitosas, todas repletas de aprendizado. E foram os mais variados perfis de candidaturas.
Alguns estavam mais preparados para a disputa e, por terem mandatos, já contavam com uma boa estrutura para não cair naquelas decepções apontadas no início deste texto. Outros, mesmo com mandato, vinham de experiências com pouca valorização da Comunicação e do Marketing e tiveram mais dificuldade em estabelecer a forma de chegar até seus eleitores. Por fim, aqueles que pela primeira vez disputavam um cargo político eleitoral e para os quais tudo era novidade e o dinheiro, quase sempre, mais curto.
De toda forma, conseguiram atingir o objetivo maior: foram eleitos. E é daí que vem o título deste artigo: “Tomei posse. E Agora?”.
Agora é hora de parar e pensar o futuro. Mas como? Em primeiro lugar, entendendo que é um começo. Nos cases vitoriosos da Alcateia Política em 2022 temos exemplos de Deputado Federal eleito Senador – muda tudo; candidato estreante que se elegeu Deputado Federal – vida nova; ex-Deputado Estadual que, após quatro anos, retorna à Assembleia Legislativa de seu estado, necessitando um reencontrar-se; Deputado Federal reeleito, passando aperto.
Enfim, são muitos e diferentes tipos de jornadas de sucesso, cujos personagens precisam, agora, debruçar-se sobre algumas questões essenciais:
- Fazer um Planejamento de Mandato, visando o primeiro ano;
- Fazer um Diagnóstico de Presença Virtual;
- Consolidar as bandeiras da campanha, para de fato serem as pautas do mandato;
- Entender o quadro político atual, com nova concepção de Executivo Nacional e de muitos Executivos Estaduais;
- Entender e dimensionar o cenário político interno da Casa em que se vai atuar, com análise dos três cenários possíveis e suas variáveis: situação, neutralidade crítica e oposição;
- Capacitar e melhorar – quando continuidade – o quadro de pessoal do gabinete;
- Escolher bem – quando mandato inicial ou retomada de mandato pós pausa – a equipe que terei em meu gabinete;
- Estudar a fundo o funcionamento da Casa – Regimento.
Para isso, certamente, haverá a necessidade de agir de forma profissional, com consultorias especializadas que possam Diagnosticar e Planejar as ações e as responsabilidades, bem como orientar as pessoas que estarão à frente dos cargos de gabinete.
E, antes disso, há decisões importantes por parte do parlamentar: a escolha destes assessores. Normalmente, as escolhas recaem sobre duas qualidades essenciais, a primeira de natureza política, ou seja, pessoas nas quais eu confio. Junto a isso, uma outra qualidade essencial é a capacidade técnica dos contratados para fazerem parte do quadro de servidores do gabinete. Fica evidente que o ideal é a soma das duas virtudes: ser de confiança e ter qualificação técnica para o exercício da função.
Tranquilo. Faço isso e as coisas vão rodar perfeitinhas nos quatro anos?
Não é bem assim. O principal aqui é entender, sempre, que todo e qualquer Planejamento e flexível, trabalha com cenários e deve ter acompanhamento constante, justamente por estes aspectos.
Todo Planejamento deve ser revisado, novas metas devem ser estabelecidas, levando-se em conta os sucessos e insucessos, os novos cenários, a conjuntura política, os movimentos internos da Casa Legislativa a que pertenço e os avanços de meus processos internos e externos de Comunicação e Marketing.
Planejar é algo que não tem fim. Esta é a máxima que os Estrategistas/ Consultores da Alcateia Política carregam com muita seriedade. Não há apenas uma solução e que seja eterna. Vivemos em sociedade, a sociedade muda, os costumes e leis mudam, acompanhando estas mudanças da sociedade, e a vida parlamentar, que em grande parte age sobre o legislar, também deve acompanhar os novos rumos e contribuir para a sua compreensão pelo cidadão.
*João Henrique Faria é jornalista, estrategista político, professor da pós-graduação em Comunicação Pública e Governamental da PUC-MG, proprietário da Fator Consultoria e membro fundador do Coletivo Alcateia Política
Foto: Valter Campanato – Agencia-Brasil